Como a  fotografia me ensinou a amar incondicionalmente a mulher que eu sou

Neste texto, compartilho como a fotografia me ajudou a redescobrir minha beleza, superar padrões irreais e abraçar minha identidade como mulher trans. É uma história sobre desafios, aceitação e empoderamento.

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Sumário

A mulher que eu sou

Depois de anos lutando contra padrões de beleza irreais, transformei um ensaio fotográfico em uma jornada de autodescoberta e empoderamento. A câmera se tornou minha maior aliada na aceitação do meu corpo e da minha identidade. Quer saber como uma sessão de fotos transformou minha vida? Continue lendo!

Antes da minha afirmação de gênero, eu não me via como uma pessoa bonita, mesmo que me elogiassem. Como eu não me reconhecia e nem apreciava o que via no espelho, estar ou não no padrão era algo sem importância porque o meu turbilhão interno ia além de um pneuzinho que pudesse aparecer em uma foto. A minha insatisfação era muito mais complexa e me causava uma dor que parecia não ter fim. Quando tomei coragem para iniciar o processo de afirmação de gênero, essa dor finalmente foi diminuindo. A cada passo eu conseguia, mais e mais, identificar a mulher que sempre fui ao olhar no espelho. Sentia-me mais completa.

Disforias resolvidas, acreditava estar pronta para me aceitar, me amar e me apreciar plenamente, mas, infelizmente, percebi que as pressões estéticas sobre as mulheres, especialmente as trans, poderiam ser sufocantes. Mesmo que eu tenha tentado não deixar essas cobranças roubarem a felicidade real de finalmente poder mostrar ao mundo a mulher que eu sempre fui, sem que eu percebesse, uma certa insegurança foi se instalando. Não atender ao padrão surreal a que somos bombardeadas pelas redes sociais, propagandas e até mesmo por pessoas da minha convivência, passou a interferir na forma como me vejo. Como se estar extremamente magra fosse sinal de saúde, ou como se, por ter silicone, eu tivesse a obrigação de ter airbags e não apenas seios. Ou ainda: como eu poderia não ser hipergostosa após ter feito procedimentos estéticos?

Claro que existe uma contradição. Apesar da beleza ser algo subjetivo, quando nos deparamos com esses padrões, acabamos por nos cobrar para alcançá-los. Não se trata de ter uma mentalidade fraca, ser sugestionável, mas sim de não percebermos o surgimento de uma insegurança, permitindo que ela se instale, até que estejamos mais nos cobrindo do que nos vestindo. Até que uma tarde gostosa com os amigos na praia seja mais um momento de estresse do que um momento de prazer genuíno como deveria ser.

Tenho diversas qualidades: sou uma profissional bem-sucedida, criativa e com facilidade de desempenhar diversas funções em diversas áreas, mas não estar dentro do padrão estético começou a me incomodar. Comecei a fazer academia e a me preocupar mais com a alimentação, mas perceber que eu não estava fazendo isso por saúde me incomodou! Eu não sou assim! Sou uma mulher bem resolvida, que abriu mão de tantas coisas para ser quem eu sou, justamente por ser uma pessoa forte. Deixar que tirem minha felicidade e sensação de plenitude não se parece em nada comigo.

O processo de se aceitar pode ser contínuo. Estamos sempre em busca do nosso melhor, mas isso não pode tirar o mérito do que alcançamos hoje. Caso contrário, será uma jornada ingrata que nunca terá um ponto real de chegada.

 

Como um ensaio fotográfico mudou minha vida

Quando decidi fazer um ensaio fotográfico com a Gabriela Lindner, estava buscando mais do que apenas belas imagens. Ela tem um dom especial: fotografar para o seu olhar antes do olhar do outro, apesar do ensaio ter um viés mais sensual, nunca senti que estava me expondo para o outro, na verdade, era como se estivéssemos juntas em uma jornada de autodescoberta.

Cada clique era um convite para que eu me conectasse comigo de uma forma mais profunda, a câmera se tornava um espelho que refletia não apenas a minha imagem física, mas também a minha alma. Minhas inseguranças sobre estar acima do peso e não me encaixar nos padrões diminuíram aos poucos. Senti-me plena, viva e bela!

Lembro-me de um momento em particular, quando ela me pediu para olhar para a câmera como se fosse um convite para ser olhada. Percebi naquele instante que, na maior parte do tempo, eu evitava ser vista. Pude me perceber e me apreciar, não me encaixando na perfeição idealizada pela sociedade. Vi uma mulher forte, resiliente e cheia de vida! As fotos finalizadas foram a confirmação de tudo o que eu senti durante aquele momento.

Acredito que a importância desse ensaio vai muito além das imagens, ele foi um marco na minha jornada de auto aceitação, através dessas fotografias, pude construir uma narrativa positiva sobre mim mesma, celebrando minha identidade e superando os desafios que enfrentei ao longo da vida. A experiência com a Gabriela me mostrou que a beleza é única em cada um de nós, e que o amor próprio é o maior presente que podemos nos dar.

 

A importância da representação da diversidade de gênero na mídia

A experiência do ensaio fotográfico me fez refletir sobre a importância da representação positiva das pessoas trans na mídia, algo que me tocou profundamente durante toda a minha vida.

Quando nos vemos representadas, sentimos que fazemos parte do mundo, que somos válidas e que nossas histórias importam. A falta de representatividade contribui para a invisibilização e a discriminação, além de reforçar estereótipos negativos.

Busco sempre contribuir para essa representatividade positiva, seja no meu trabalho como gerente, seja através dos meus filmes ou dos meus livros, e grande parte dessa contribuição consiste em mostrar a minha vida. Quero demonstrar que pessoas trans podem ser excelentes profissionais, amigos, parentes e cônjuges. Ou seja, se eu não me olhar com apreciação pelo que sempre fui por dentro e me tornei por fora, minha narrativa não irá alcançar as pessoas de forma verdadeira.

Ver-se, aceitar-se e amar-se pode ser um processo extremamente difícil para quem é sempre marginalizada, mas é essencial! Lembro-me de que ao crescer, nunca me vi representada na mídia. As mulheres trans eram retratadas de forma estereotipada, como objetos de desejo ou marginalizadas, ou tinham suas histórias apagadas, como a de Roberta Close, que era apresentada como hermafrodita. Essa falta de representatividade me fez sentir sozinha e diferente, perdida e sem referência do que realmente acontecia comigo. Foram necessários 31 anos de um sofrimento indescritível e finalmente muita terapia para me aceitar e me permitir ser quem eu sempre fui. Por isso, é tão importante que as novas gerações tenham acesso a representações mais diversas e inclusivas.

 

A relação entre a identidade de gênero e a sexualidade

A identidade de gênero e a sexualidade são aspectos complexos e interligados da vida humana. Muitas vezes, as pessoas tentam separar essas duas dimensões, mas elas estão intrinsecamente relacionadas, a sexualidade de uma pessoa trans é tão válida e diversa quanto a de qualquer outra pessoa.

É importante quebrar os estereótipos que associam a identidade trans a uma única orientação sexual. Pessoas trans podem ser lésbicas, gays, bissexuais, assexuais ou qualquer outra orientação. A sexualidade é uma parte fundamental da identidade de uma pessoa, e não deve ser definida pela sua identidade de gênero.

Através desse ensaio, pude desafiar esses estereótipos e mostrar que a sexualidade trans é tão rica e diversa quanto qualquer outra. As imagens produzidas são uma forma de celebrar a integração entre minha sexualidade e minha identidade de gênero. Foi mais uma ferramenta fundamental na minha jornada de autodescoberta e autoafirmação. Ao me ver através dessas lentes, senti-me mais forte, confiante e conectada comigo mesma.

Acredito que a fotografia tem o poder de transformar vidas e de promover a inclusão e a diversidade. Ao compartilhar minha história, espero inspirar outras pessoas trans a se amarem e se aceitarem como são. Afinal, a beleza reside na diversidade, e cada um de nós tem uma história única para contar.

 

Foto de Marcela Bosa

Marcela Bosa

🌈 Escritora, palestrante, artista plástica, bacharel em física, gerente geral de uma agência de um grande banco e... uma mulher trans!

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Conheça minha autobiografia na qual conto a minha trajetória de vida como uma mulher trans que luta pelo seu direito de amar e existir. 

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